segunda-feira, 27 de julho de 2009



Sobre o amor

Ninguém disse que é fácil. E justamente por ser tão difícil, quase impossível, é que devemos procurar praticar a amorosidade desde já e sempre, em cada ato do cotidiano, com toda e qualquer pessoa

Um rapaz de vinte e poucos anos está no meio do palco.È o centro da homenagem a seu pai, morto a um ano antes. Toca guitarra ao lado do patrono da noite, Eric Clapton. Dhani é a imagem do jovem George Harrison, o único ali que parece não ter envelhecido,como observa Paul McCartney e demais roqueiros presentes.

A média de idade no palco oscila entre a de um beatle e a de um filho de beatle, com poucas exceções, como a de Ravi Shankar, músico indiano que declarou seu amor de pai a George e compôs uma peça especialmente para tocar no show.

Nessa noite, tudo o que se fala é de amor. O vídeo foi gravado em 2002 e só tive a chance de ver agora. A inspiração da presença amorosa em torno de George nos ajuda a perguntar qual a razão de nossa dificuldade de falar sobre amor em nosso cotidiano. E não apenas nas músicas, na poesia, nos templos e funerais. Porque há tanto amor e desamor na arte quanto na vida real. O sofrimento da separação. A ideia ilusória de que sejamos apenas uma parte do todo. Algo que se perdeu.

Há verdades que parecemos não enxergar, apesar de serem tão óbvias quanto o Pão de Açúcar e o Corcovado na paisagem do Rio de Janeiro. É preciso tratar o outro com amor se o que se espera é ser tratado da mesma maneira. Simples assim. Mas temos sido incapazes de incluir o amor na prática, nas palavras e ações que dão origem a toda a construção humana. Há um desastre ambiental e social acontecendo agora. Não uma ameaça distante, mas algo que já é real. Diante dele, o que se vê são o medo e hesitação.

“É preciso tratar o outro com amor se o que se espera é ser tratado da mesma maneira”

Há muita incerteza nas questões de como lidar com a ferida que a atividade humana causa ao planeta. Muitas vezes essa incerteza é usada para justificar a covardia que é a de ficar sem fazer nada. Se há uma certeza, é de que algo deve ser feito. Isso tem a ver com o conhecimento do problema e de sua solução, nos níveis dos líderes dos grandes negócios, privados e públicos. Tem a ver, também, com a ação individual. Com nossa motivação diante do próximo, seja ele um conhecido ou um estranho. Tem a ver com as escolhas de cada um como cidadão, eleitor, consumidor.

Nada acontecerá até que cada um aprenda a servir o outro. Quem faz as empresas e governos são as pessoas. Pessoas com sentimentos e com capacidade de mudar.


Renata Salustti

Orkut: renata_2756@yahoo.com.br